quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Respeito por Bezerra de Menezes na sua terra natal



 
 
Antônio Alfredo de Sousa Monteiro, dirigente de instituição em Fortaleza e das obras de Jaguaretama, comenta sobre o Polo de Divulgação Espírita Bezerra de Menezes, na cidade natal do Benfeitor espiritual

Reformador: Como surgiu a ideia de atuarem no local de nascimento de Bezerra de Menezes?

Monteiro: A ideia surgiu quando o saudoso companheiro de ideal espírita, Benvindo Melo, então presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará (FEEC), convidou-nos para uma visita ao local onde nasceu Bezerra de Menezes, a 29 de agosto de 1831, na Zona Rural do município de Jaguaretama, ex-Riacho do Sangue, a 260 quilômetros de distância de Fortaleza. É uma região de caatinga no Sertão do Jaguaribe, situada a 10 quilômetros da sede municipal.
Lá encontramos um marco de concreto erigido pela extinta Capemi, junto ao qual decidimos construir um museu sobre os supostos alicerces que ainda existiam da casa onde nasceu Bezerra de Menezes.Tudo era seco, uma paisagem inóspita, sem casas por perto, sem gente, sem energia elétrica. Construído sob a melhor das inspirações,o museu foi inaugurado no mesmo ano pela FEEC que, na ocasião, lançou o Projeto PODEBEM – Polo de Divulgação Espírita Bezerra de Menezes. A ideia era irradiar, a partir dali, um processo de evangelização que terminou envolvendo sobretudo as populações de assentados – comunidades de trabalhadores rurais –, que se agruparam na área, atraídas pelos projetos agrários do INCRA1 apoiado pelo DNOCS.1 Hoje, o Polo, como se tornou conhecido, estende suas atividades de evangelização e assistência social às agrovilas desses assentados, atuando também na educação das comunidades em colaboração com a administração municipal, tendo começado por uma escola de ensino fundamental, que atende a 300 alunos, filhos de trabalhadores rurais e de assentados da área de nove agrovilas.

Reformador: No que consiste o projeto que vêm implementando?

Monteiro: O Projeto tem como escopo a divulgação da Doutrina Espírita, dentro da proposta do Espírito de Verdade, que coloca o amor e a instrução como as asas que conduzem o Espírito imortal ao aperfeiçoamento.

O Espiritismo, pelo seu caráter cristão e pela mensagem de esclarecimento e consolação, teve uma aceitação além das expectativas de parte dos assentados sequiosos de respostas para as lutas e desafios que enfrentam numa região carente de tudo. Como era natural, a totalidade das comunidades não conhecia a Doutrina.
O primeiro passo foi implantar a evangelização infantil, que começou na Vila Santa Bárbara, constituída de terras da antiga Fazenda Santa Bárbara, onde nasceu Bezerra. E aos poucos, com uma assídua presença dos espíritas de Fortaleza e procedentes de outras regiões do Estado, fomos adentrando em outras vilas mais distantes. A grande dificuldade inicial foi a carência de evangelizadores que eram recrutados a partir da capital. De início, foi muito difícil devido aos obstáculos, às limitações, aos desafios, já que tudo praticamente dependia de Fortaleza.
Foi preciso muito investimento em cursos permanentes para a formação de evangelizadores locais, ou seja, para o envolvimento das comunidades.
Após três anos de exaustivo trabalho, a primeira vila tornou-se autossuficiente na evangelização.

Através das crianças da Escola de Evangelização, os pais foram atraídos e o trabalho foi crescendo lentamente.
Poucos acreditavam na validade do Projeto. Era preciso vencer a inércia física e espiritual. Hoje, a partir do Polo, já foram criados cinco centros espíritas nas diversas agrovilas.
Paralelamente aos trabalhos espirituais, investimos nas áreas ecológica e de meio ambiente, em cursos profissionalizantes, música, teatro, folclore. Como vemos, foi um trabalho de bandeirantismo – da Capital para o Interior.

Reformador: Há alguma preservação da memória de Bezerra?

Monteiro: Não há ainda muita coisa nesse sentido porque esses são resultados que iremos colhendo, certamente, junto com o projeto de educação, de motivação e conscientização da comunidade sobre suas origens, seus ancestrais, sua saga e toda a sua história. Aí vão surgindo a pesquisa, a busca de informações, a incursão no passado da região e o interesse pelos elementos culturais que marcaram sua caminhada. No museu exibimos os principais documentos sobre a vida de Bezerra de Menezes, incluindo fotografias com as respectivas molduras e as explicações correspondentes. Da mesma forma, foi reconstruída toda a história do Polo, desde 1997 até hoje. Sempre na semana comemorativa do nascimento de Bezerra de Menezes, a escola fundamental do Polo elabora o evento com intensa programação e atividades, exaltando o exemplo de vida do grande Apóstolo do Espiritismo, como homem simples do Interior, médico humano, político respeitável, espírita que exemplificou e vivenciou a Doutrina como verdadeiro homem de bem.

Reformador:
 E a ação social na região?

Monteiro: O Polo mantém cursos profissionalizantes em convênio com a Secretaria de Ação Social do Estado, voltados não só para o homem do campo, para fixá-lo à gleba produtora em condições dignas, mas também aos jovens filhos dos assentados, vítimas do êxodo em busca de outras alternativas de sobrevivência e crescimento, nem sempre bem-sucedidas.
Ministra também os próprios cursos de captação, profissionalização e outros cursos informativos nas áreas médica, odontológica, social e educativa.
Nas áreas ecológica e de meio ambiente, faz um trabalho permanente de educação com crianças, jovens e adultos, procurando despertá-los para o amor, respeito e zelo pela Natureza. Aí se incluem a mudança de costumes nocivos ao meio ambiente, introdução de novos hábitos, como a coleta do lixo doméstico, passando pelo respeito aos animais e à Natureza como um todo. Em convênio com a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – o Polo colabora na gestão de recursos hídricos, com vistas à melhoria da qualidade de vida dos assentados, especificamente na microbacia do Riacho do Sangue, onde estão localizadas as diversas vilas de assentamento.
Trata-se do Programa Vigilantes da Água, que segue o modelo do programa Global Water Watch. E dentro de sua programação para defesa e preservação dos valores da cultura e do folclore locais, o Polo tem seu Espaço Cultural, que se dedica à divulgação e prática das artes em geral, esforçando-se para trabalhar, educar e despertar valores, através da música, teatro e dança, em crianças e jovens até dezoito anos.
O Polo proporciona na região a presença periódica de médicos de várias especialidades que prestam trabalhos em grupos, como voluntários,dando consultas e medicamentos gratuitos.
Distribui, anualmente, cerca de 900 cestas básicas para as famílias carentes do local, jamais fazendo um trabalho de assistencialismo, mas buscando despertar as consciências sobre o dever da solidariedade. E procura fixar essa visão por meio de cursos, palestras, momentos de arte, escola e reforço escolar, cuidando do homem,mudando o seu comportamento, dando-lhe um novo rumo que não seja o da ignorância e dependência.
Tanto assim é, que não há conflitos de terra nas comunidades participantes do Projeto do Polo.

Reformador: As ideias e a ação espírita são bem compreendidas na região?

Monteiro: O povo é simples, bom, amigo.Vive da agricultura de subsistência numa terra seca de baixa produtividade, onde a precipitação pluviométrica não chega a 700 milímetros ao ano. É um semiárido que pouca coisa oferece ao agricultor. A água é escassa e o solo cristalino, povoado de cactos, juazeiros, jucazeiros, paus-ferro, catingueiras e outras plantas xerófilas próprias da Região. Para se ter uma ideia, é a parte do Ceará onde corria, até antes das barragens,dos rios Orós e Castanhão, construídas para combater a aridez, o maior rio seco do mundo – o Jaguaribe, com 610 quilômetros de curso.Hoje tem irrigação. E as pessoas demonstram um grande poder de fé, pois mesmo nos períodos mais críticos, ninguém se revolta nem se queixa da vida. Têm muita fé em Deus, a seu modo e, com certeza, tudo isso favorece à aceitação da Doutrina Consoladora no seu modo simples de esclarecer e consolar.Aceitam o mundo espiritual, a reencarnação, a comunicação com os Espíritos, a lei de causa e efeito, como se já fossem iniciados no conhecimento espírita.

Reformador: Há alguma publicação ou produção digital sobre o trabalho?

Monteiro: Partindo propriamente do Polo nada há além dos folhetos, convites e programas relacionados com as atividades das comunidades, sobretudo no período destinado às comemorações do nascimento de Bezerra de Menezes. Nessa ocasião, multiplicam-se as caravanas procedentes de todo o Estado do Ceará e de outros recantos do País, atraídas pelas atividades e informações sobre o ambiente onde nasceu o Médico dos Pobres. Tem um dado, aliás, interessante a observar nessas caravanas que diferem do que se denominam romarias, na linguagem de outras religiões. Antes chegavam com a expectativa de se beneficiarem pelas vibrações do Polo. Hoje vêm com o fim de prestar serviço, unirem-se aos outros em grupos de voluntários para os diversos campos da assistência espiritual, social e cultural. Há ideia de produção digital e publicações a respeito, as quais, por enquanto, são mais aquelas dos livros, revistas, artigos e comentários sobre as passagens mais marcantes de Bezerra de Menezes.

Reformador: Como, atualmente, vê a repercussão do exemplo de vida de Bezerra?

Monteiro: Hoje em dia, com a profunda penetração da fé espírita em todas as classes e com os amplos e modernos recursos das comunicações, sobretudo da Internet, a figura de Bezerra de Menezes está entre as mais conhecidas e cultuadas pelo exemplo das suas virtudes. Aqui no Nordeste, principalmente no Ceará do padre Cícero Romão Batista, tido como o grande taumaturgo dos católicos, o respeito espiritual ao nome do Dr. Bezerra está nas mais diferentes crenças. E a partir do Polo pode-se avaliar o alcance da sua mensagem e do seu exemplo de vida na motivação das caravanas, que aportam à região cheias de admiração e confiança na luminosidade desse grande Espírito.

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