quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Esperanto Anterior | Ideia de língua internacional


Affonso Soares
Diretor de Esperanto da FEB
Damos abaixo, em forma resumidíssima, o pensamento de Lázaro Luís Zamenhof, iniciador do esperanto, sobre o tema que lhe ocupou, praticamente, a vida inteira. Este texto ele o subscreveu sob o pseudônimo Unuel, o qual foi lido pelo Sr. Louis de Beaufront, um dos pioneiros do esperanto na França, por ocasião do Congresso da Association Française pour l’Avancement des Sciences, realizado em 1900 na
cidade de Paris.
Essência e futuro da ideia de língua internacional
A sorte invariável das ideias de real progresso é, de início, a desconfiança, a resistência, a hostilidade.
Entre elas se alinha a adoção de uma língua comum para as comunicações entre os povos, conquista ainda retardada em nosso tempo pelo espírito de rotina e pela inércia intelectual.
Para tratar de tão importante problema, Zamenhof analisou sistematicamente as seguintes questões:
É necessária uma língua internacional?
• Ela é possível, em princípio?
• Há esperança de que venha a ser introduzida na prática?
• Quando e de que modo isso ocorrerá e qual será a língua adotada?
• Nosso esforço tem finalidade definida, ou correremos o risco de que ele se perca?
A necessidade de uma língua internacional é patente aos olhos de todos, vindo a negativa da parte de alguns, que temem o desaparecimento das línguas nacionais, e da parte de outros, que supõem venha a ser adotada uma língua nacional.
Uma língua comum para as relações internacionais não destruirá as nacionais, antes contribuirá para o seu fortalecimento, porque, não sendo obrigado a aprender línguas estrangeiras para se comunicar, o homem aprofundará o conhecimento de sua língua materna.
O receio de que uma língua nacional se torne internacional é infundado, a Humanidade não a aceitaria por contrariar princípios de justiça e fraternidade, concedendo superioridade indesejável ao povo cujo idioma ganhasse tal status.
A adoção de uma língua internacional é, portanto, benéfica para o progresso geral. Toda a produção do espírito humano seria traduzida para essa única língua, na qual também muitas obras seriam escritas diretamente. Nos congressos internacionais não haveria quem deles não participasse efetivamente por desconhecer outros idiomas. Todos usariam o idioma comum.
A viabilidade de uma língua internacional é também evidente, pois que, sendo possível aprender vários idiomas, todos poderiam aprender um único e, assim, compreender-se reciprocamente.
Sabendo que, para se relacionar com o mundo, se deveria aprender apenas uma língua, em nenhum lugar faltariam escolas e mestres para o seu ensino, e os pais acostumariam seus filhos, desde a infância, ao seu uso.
A admissão desse instrumento de comunicação certamente virá um dia, como decorrência natural do fato de que, sendo útil e possível, ele será necessariamente escolhido, mais cedo ou mais tarde, pois assim o determinará o impulso humano, consciente e incessante, de sempre buscar o melhor.
O tempo em que surgiria essa língua internacional e o modo pelo qual isso se daria dependem muito da pergunta: qual será a língua internacional? Sem essa certeza, a questão se arrastaria longamente, pois todas as línguas concorreriam e, então, se dependeria dos governos que, com seus aparatos e ritos burocráticos, imprimiriam inevitável e considerável atraso em qualquer decisão.
Se é possível, porém, prever com clareza e precisão qual língua será adotada para as relações internacionais, então não se esperaria tanto, qualquer sociedade ou pessoa isolada poderia promover a sua difusão, o número de adeptos cresceria, sua literatura se enriqueceria, os congressos internacionais poderiam empregá-la e ela, dentro de pouco tempo, se tornaria tão forte que aos governos só restaria sancionar um fato consumado.
Já existe a certeza de qual língua será adotada para as relações internacionais. Não é difícil provar que só existe uma a ser escolhida, que qualquer outra escolha seria impossível, mesmo que o quisessem, pois se tornaria letra morta.
Se representantes dos povos se reunissem em congresso para decidir o assunto, teriam diante de si as seguintes alternativas:
Escolher uma das línguas vivas existentes;
• Escolher uma das línguas mortas;
• Escolher uma das línguas planejadas;
• Nomear uma comissão para criar uma língua inteiramente nova.
A escolha recairia fatalmente numa língua planejada, dita artificial, pois nem as línguas vivas, por suas particularidades – ortografia complicada, pronúncia irregular, complexidade gramatical, ausência de neutralidade, vinculação a interesses nacionais –, nem as mortas, por algumas razões semelhantes, poderiam competir com a mais perfeita forma de língua planejada existente: o esperanto.
Nele se reúnem as condições essenciais para o desempenho da função para a qual foi concebido.
Sua ortografia é regular e fonética; sua gramática, com apenas 16 regras sem exceções, é de fácil aprendizado; seu vocabulário é formado pelas raízes que compõem as grandes línguas modernas de cultura; sua neutralidade é incontestável, pois não serve a interesses nacionais, não está vinculado a grupos étnicos, religiosos, a correntes políticas ou filosóficas; seus ideais são os que concorrem para a aproximação dos povos, das culturas, por expressar plenamente as aspirações de uma Humanidade renovada pelos ideais de paz, justiça e fraternidade.
Zamenhof então conclui, com propriedade:
A adoção de uma língua internacional seria utilíssima para a Humanidade;
• Ela é absolutamente possível e ocorrerá, cedo ou tarde, por mais que os rotineiros lutem contra isso;
• Como língua internacional nunca será escolhida outra que não seja uma língua planejada;
• A escolhida será, sem qualquer sombra de dúvida, o esperanto, na sua forma atual ou com posteriores alterações.

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