quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Allan Kardec, o Pedagogo e o Codificador – Marta Antunes Moura – (Entrevista)


Marta Antunes Moura, coordenadora das Comissões Regionais na área da Mediunidade da Federação Espírita Brasileira (FEB), concedeu ao jornal Evangelho e Ação por ocasião do IV Congresso Espírita Mineiro a entrevista que se segue sobre o tema que abordou em sua conferência: Allan Kardec, o Pedagogo e o Codificador. A expositora falou-nos acerca do ilustre codificador de nossa Doutrina de modo elucidativo e comovedor. O professor Rivail não foi apenas um simples professor na Instituição em que trabalhava na cidade de Paris, pois seu intuito era interagir com seus alunos trazendo-lhes noções de bem viver. “Kardec se fundamentava na formação moral das pessoas”, – observou Marta. Ela ainda ressaltou que a metodologia pedagógica adotada por Kardec teve como base os postulados do professor Pestalozzi, apresentando-os de forma eloqüente.
Na FEB seu campo de ação se desenvolve em dois tipos de trabalho, um ligado à parte doutrinária – com a elaboração de apostilas e artigos – e outro de âmbito nacional focado na área mediúnica.
Desde 2003, vem desenvolvendo um trabalho voltado ao estudo do Evangelho. A FEB com esta proposta lançou as apostilas “Cristianismo e Espiritismo”, que trata da história da evolução religiosa da humanidade, e “Ensinos e Parábolas de Jesus” que tiveram a contribuição direta de Honório de Abreu e Haroldo Dutra Dias. São sessenta e quatro roteiros de estudo do Evangelho. Marta também escreve para a coluna “Em dia com o Espiritismo”, da revista O Reformador, na qual trata da atualidade científica fazendo uma correlação com o Espiritismo.
Jornal Evangelho e Ação (Jornal): O fato de Allan Kardec ter estudado com o grande pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi teria influenciado no método pelo qual ele codificou nossa doutrina? A senhora acredita que ele poderia ter tido alguma dificuldade caso não houvesse estudado com o sábio educador?
Marta Antunes Moura (Marta): Em relação à primeira pergunta diria que o método de Pestalozzi influenciou o aprendizado de Kardec, tanto como educador quanto como codificador. Esses ensinamentos foram a base da formação do codificador, do homem propriamente dito, do profissional da educação. Quanto à segunda pergunta, não acredito que Kardec teria dificuldades sem o auxílio e a proteção de Pestalozzi. É uma opinião particular. Acho que ele era um espírito preparado. Desde as Gálias, antes da formação da França, propriamente dita, ele foi um sacerdote druida, que lidava com o além túmulo. Acredito que não teria dificuldades, pois tinha uma formação moral e acadêmica, proveniente de várias existências. Muitos afirmam que teria sido João Huss. No campo da moral, da educação e do conhecimento era muito firme. Falava com simplicidade, como se fosse tudo muito fácil, mas é porque tinha conhecimentos acumulados. Se Kardec não houvesse estudado com Pestalozzi talvez não teria seu trabalho tão facilitado, teria que trabalhar mais. Acredito, que a presença de Pestalozzi em sua vida e a educação católica que recebeu com seus pais foram para lembrar aprendizados já adquiridos anteriormente e desenvolver sua intuição para que pudesse recordar da sua missão.
Jornal: Muitas pessoas dizem que a Doutrina Espírita é uma doutrina elitista, de difícil compreensão para pessoas menos instruídas. A senhora concorda com esta afirmação? Por que?
Marta: Não. E nem deveria existir este pensamento, porque se a Doutrina Espírita é o Cristianismo Redivivo temos que levá-la para todas as pessoas. Justamente por não conhecer o método utilizado por Kardec é que muitos afirmam isso. A questão não é a Doutrina e sim o método que é utilizado para levar a outras pessoas o conhecimento do Espiritismo. Se basearmos apenas no método mecânico e acadêmico fica difícil para quem tem pouco estudo entender. Agora, se usarmos o método natural, aquele proposto por Kardec e Pestalozzi, que é o mesmo utilizado por Jesus, fica muito fácil. Na atualidade, muitas pessoas transmitem a Doutrina Espírita adotando uma postura intelectualizada, não considerando o ouvinte que é o objeto do aprendizado, não se inteirando do método educativo, utilizado por Kardec.
Jornal: Quais são os métodos pedagógicos utilizados por Kardec na codificação da Doutrina Espírita?
Marta: Ele teve como fundamentação o método pestalozziano que é de grande valor humanista. Kardec não considerava os alunos como pessoas distantes, mas como pessoas muito próximas, chamava os alunos de “meus amigos”. Naquela época, a relação entre o professor e os alunos era baseada no ensino dos jesuítas. O professor tinha que ser impassível, não podia demonstrar emoção, tinha que se revelar uma criatura perfeita. Com Pestalozzi, Kardec adequou o método racional, sistemático, das ciências positivas ao conhecimento moral que deveria ser transmitido, desenvolvendo a relação de amizade com seus alunos, tornando mais fácil o aprendizado. Ele ficou atento ao conhecimento porque este leva a formação profissional, mas não ignorou o valor da formação do caráter, porque a educação é a arte de formar caracteres, conforme se lê em O Livro dos Espíritos. Esta educação moral vem de onde? Vem do Evangelho de Jesus. Apesar de Pestalozzi conhecer a Bíblia e ensiná-la, quem fez o casamento entre o método pestalozziano e o Evangelho foi Kardec. Isso ele fez como somente os mestres sabem fazer.
Jornal: Alguns estudiosos da vida de Kardec afirmam que os espíritas costumam identificá-lo como um homem racional, centrado, destemido, esquecendo de ver o lado amoroso e humano do Codificador. A senhora acha que procede esta informação? Poderia contar-nos algum fato de sua vida que comprove este lado amoroso do mestre lionês?
Marta: Kardec utilizou-se do método racional e de estatísticas porque durante o trabalho da Codificação recebeu informações do mundo inteiro, provenientes de diversos médiuns e de diversos grupos espíritas. Analisou cada pergunta e resposta, aceitando as respostas mais reincidentes. Por outro lado aliava a formação humanista àqueles métodos porque ele media as conseqüências, sobretudo da interação de ensinar dos espíritos. Dessa forma, não podemos considerar um fato isolado, por melhor que seja o cientista, quem assina a mensagem como fenômeno universal. Um fato ou informação isolados não representa uma verdade científica, filosófica ou religiosa universais. As pessoas absorvem a parte racional, ignorando o conteúdo moral e a metodologia afetiva e comportamental proposta. É fácil esquecer que o Codificador apresentava certas características que estão relatadas na Revista Espírita, como a de chamar carinhosamente a esposa de Gabi, pedir desculpas, ter a coragem moral de afirmar e de voltar atrás na interpretação, ajudar os amigos dando-lhes apoio material e moral. Em geral, não observamos esse outro lado. Nos detemos mais na racionalidade, quando na verdade ele foi um exemplo de dignidade, de respeito e de carinho. Sua maneira de ser sugere um temperamento calado e discreto, no entanto, há indicações que na intimidade era uma pessoa agradável, simpática, afável e dócil. No seu comportamento, conforme está registrado em Obras Póstumas, podemos ainda citar algo notável: durante o trabalho da Codificação, por inúmeras vezes, Kardec aceitou correções, tinha a humildade em admitir que precisava voltar atrás, a despeito de todo conhecimento que possuía, com toda autoridade que representava no seio da sociedade francesa, uma sociedade bastante culta e exigente como ainda o é.
Jornal: Na atualidade o Movimento da Pedagogia Espírita tem adquirido um grande destaque junto aos educadores e evangelizadores no Movimento Espírita. Como a senhora analisa isto?
Marta: Analiso como positivo desde que seja uma pedagogia verdadeiramente espírita, que atente não só pelo conteúdo da doutrina, mas às suas conseqüências na formação do caráter das pessoas. Engessar a educação e a pedagogia com mais um método, com mais uma técnica não é o caminho. O grande desafio é reunir toda esta orientação que foi transmitida pelo Codificador e pensar no resultado, na transformação moral e intelectual das pessoas, seguindo o exemplo de Jesus.
Jornal: Qual é a mensagem que a senhora deixa para os leitores do nosso jornal Evangelho e Ação?
Marta: A mensagem é muito simples. É a mensagem de que seremos conhecidos, como nos diz o Cristo, por muito nos amarmos.
Aproveitamos a oportunidade a fim de agradecer a Marta Antunes Moura pelo seu carinho e atenção a nós dispensados, rogando ao Divino e Amado Mestre Jesus que possa continuar abençoando e fortalecendo os seus melhores propósitos de servir.
Paz e Alegria aos nossos corações!
Wellerson Santos

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