Primeira infância
Nascido no seio de uma família humilde, era filho de João Cândido
Xavier, um modesto vendedor de bilhetes de loteria, e de Maria João de
Deus, uma dona de casa católica e piedosa.
Segundo biógrafos, a mediunidade de Chico teria se manifestado pela
primeira vez aos quatro anos de idade, quando ele respondeu ao pai sobre
Ciências, durante conversa com uma senhora sobre gravidez. Ele dizia
ver e ouvir os espíritos e conversava com eles.
Os abusos da madrinha
A mãe faleceu quando Francisco tinha apenas cinco anos de idade. Incapaz
de criá-los, o pai distribuiu os nove filhos entre a parentela. Nos
dois anos seguintes, Francisco foi criado pela madrinha e antiga amiga
de sua mãe, Rita de Cássia, que logo se mostrou uma pessoa cruel,
vestindo-o de menina e batendo-lhe diariamente, inicialmente por
qualquer pretexto e, mais tarde, sob a alegação de que o "menino tinha o
diabo no corpo". Não se contentando em açoitá-lo com uma vara de
marmelo, Rita passou a cravar-lhe garfos de cozinha no ventre, não
permitindo que ele os retirasse, o que ocasionou terríveis sofrimentos
ao menino. Os únicos momentos de paz que tinha consistiam nos diálogos
com o espírito de sua mãe, com quem comunicava desde os cinco anos de
idade o menino viu-o após uma prece, junto à sombra de uma bananeira no
quintal da casa. Nesses contatos, o espírito da mãe recomendava
"paciência, resignação e fé em Jesus" ao filho.
A madrinha ainda criava outro filho adotivo, Moacir, que sofria de uma
ferida incurável na perna. Rita decidiu seguir a simpatia de uma
benzedeira, que consistia em fazer uma criança lamber a ferida durante
três sextas-feiras em jejum, sendo a tarefa atribuída ao pequeno
Francisco. Revoltado com a imposição, Francisco conversou novamente com o
espírito da mãe, que lhe aconselhou a "lamber com paciência". O
espírito explicou-lhe que a simpatia "não é remédio, mas poderia aplacar
a ira da madrinha", esta sim passível de colocar em risco a sua vida.
Os espíritos se encarregariam da cura da ferida. De fato, curada a perna
de Moacir, Rita de Cássia melhorou o tratamento dado a Francisco.
A madrasta
O seu pai casou-se novamente, e a nova madrasta, Cidália Batista, exigiu
a reunião dos nove filhos. Francisco tinha então sete anos de idade. O
casal teve ainda mais seis filhos. Por insistência da madrasta, o menino
foi matriculado na escola pública. Nesse período, o espírito de Maria
João parou de manifestar-se. O jovem Francisco, para ajudar nas despesas
da casa, começou a trabalhar vendendo os legumes da horta da casa.
Na escola, como na igreja, as faculdades paranormais de Francisco
continuaram a causar-lhe problemas. Durante uma aula do 4º ano primário,
afirmou ter visto um homem que lhe ditou as composições escolares, mas
ninguém lhe deu crédito e a própria professora não se importou. Uma
redação sua ganhou menção honrosa num concurso estadual de composições
escolares comemorativas do centenário da Independência do Brasil, em
1922. Enfrentou o ceticismo dos colegas, que o acusaram de plágio,
acusação essa que sofreu durante toda a vida. Desafiado a provar os seus
dons, Francisco submeteu-se ao desafio de improvisar uma redação (com o
auxílio de um espírito) sobre um grão de areia, tema escolhido ao
acaso, o que realizou com êxito.
A madrasta Cidália pediu a Francisco que se aconselhasse com o espírito
da falecida mãe dele sobre como evitar que uma vizinha continuasse a
furtar hortaliças e esta lhe disse para torná-la responsável pelo
cuidado da horta, conselho que, posto em prática, levou ao fim dos
furtos.
Assustado com a mediunidade do jovem, o seu pai cogitou em interná-lo. O
padre Scarzelli examinou-o e concluiu que seria um erro a internação,
tratando-se apenas de "fantasias de menino". Scarzelli simplesmente
aconselhou a família a restringir-lhe as leituras (tidas como motivo
para as fantasias) e a colocá-lo no trabalho. Francisco, então,
ingressou como operário em uma fábrica de tecidos, onde foi submetido à
rigorosa disciplina do trabalho fabril, que lhe deixou seqüelas para o
resto da vida.
No ano de 1924 terminou o antigo curso primário e não mais voltou a
estudar. Mudou de trabalho, empregando-se como caixeiro de venda, ainda
em horários extensos. Apesar de católico devoto e das incontáveis
penitências e contrições prescritas pelo padre confessor, não parou de
ter visões e nem de conversar com espíritos.
O contato com a Doutrina Espírita
Em 1927, então com dezessete anos de idade, Francisco perdeu a madrasta
Cidália, e se viu diante da insanidade de uma irmã, que descobriu ser
causada por um processo de obsessão espiritual. Por orientação de um
amigo, Francisco iniciou-se no estudo do espiritismo. No mês de maio
desse mesmo ano recebeu nova mensagem de sua mãe, na qual lhe era
recomendado o estudo das obras de Allan Kardec e o cumprimento de seus
deveres. Em junho, ajudou a fundar o Centro Espírita Luiz Gonzaga, em um
simples barracão de madeira de propriedade de um seu irmão. Em julho,
por orientação dos espíritos seus mentores, iniciou-se na prática da
psicografia, escrevendo 17 páginas. Nos quatro anos subseqüentes
aperfeiçoou essa capacidade embora, como relata em nota no livro Parnaso
de Além-Túmulo, ela somente tenha ganho maior clareza em finais de
1931. Desse modo, pela sua mediunidade começaram a manifestar-se
diversos poetas falecidos, somente identificados a partir de 1931. Em
1928 começou a publicar as suas primeiras mensagens psicografadas nos
periódicos O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de
Portugal.
As primeiras obras
Em 1931, em Pedro Leopoldo, iniciou a psicografia da obra "Parnaso de
Além-Túmulo". Esse ano, que marca a "maioridade" do médium, é o ano do
encontro com seu mentor espiritual Emmanuel, "...à sombra de uma árvore,
na beira de uma represa..." (SOUTO MAIOR, 1995:31). O mentor informa-o
sobre a sua missão de psicografar uma série de trinta livros, e
explica-lhe que para isso são lhe exigidas três condições: "disciplina,
disciplina e disciplina". Severo e exigente o mentor instruiu-o a
manter-se fiel a Jesus e a Kardec, mesmo na eventualidade de conflito
com a sua orientação.
Em 1932 foi publicado o "Parnaso de Além-Túmulo" pela Federação Espírita
Brasileira (FEB). A obra, coletânea de poesias ditadas por espíritos de
poetas brasileiros e portugueses, obteve grande repercussão junto à
imprensa e à opinião pública brasileira, e causou espécie entre os
literatos brasileiros, cujas opiniões se dividiram entre o
reconhecimento e a acusação de pastiche. O impacto era aumentado ao se
saber que a obra tinha sido escrita por um "modesto caixeirinho" de
armazém do interior de Minas Gerais, que mal completara o primário. O
espírito de sua mãe aconselhou-o a não responder aos críticos.
Os direitos autorais das suas obras são concedidos à FEB. Neste período
inicia a sua relação com Manuel Quintão e Wantuil de Freitas. Ainda
neste período descobriu ser portador de uma catarata ocular, problema
que o acompanhou o resto da vida. Os espíritos seus mentores, Emmanuel e
Bezerra de Menezes, orientam-no para tratar-se com os recursos da
medicina humana e não contar com quaisquer privilégios dos espíritos.
Continua com o seu emprego de caixeiro e a exercer as suas funções no
Centro Espírita Luís Gonzaga, atendendo aos necessitados com receitas,
conselhos e psicografando as obras do Além. Paralelamente, inicia uma
longa série de recusas de presentes e distinções, que também perdurará
por toda a vida, como por exemplo, a de Fred Figner, que lhe legou
vultosa soma em testamento, repassada pelo médium à FEB. Com a
notoriedade, prosseguem os ataques de adversários que tentam
desmoralizá-lo, e de inimigos espirituais, que buscam atingi-lo com
fluidos negativos e tentações.
O processo da viúva de Humberto de Campos
No decorrer da década de 1930, destacaram-se ainda a publicação dos
romances atribuídos a Emmanuel e da obra "Brasil, Coração do Mundo,
Pátria do Evangelho", atribuída ao espírito de Humberto de Campos, onde a
história do Brasil é interpretada de forma mítica e teológica. Esta
última obra trouxe como consequência uma ação judicial movida pela viúva
do escritor, que pleiteou por essa via direitos autorais pelas obras
psicografadas, caso se confirmasse a autoria do famoso escritor
maranhense. A defesa do médium foi suportada pela FEB, e resultou,
posteriormente, no clássico "A Psicografia Perante os Tribunais", do
advogado Miguel Timponi. Em sua sentença, o juiz decidiu que os direitos
autorais referiam-se à obra reconhecida em vida do autor, não havendo
condição do tribunal se pronunciar sobre a existência ou não da
mediunidade. Ainda assim, para evitar possíveis futuras polêmicas, o
nome do escritor falecido foi substituído pelo pseudônimo "Irmão X".
Neste período, Francisco ingressou no serviço público federal, como
Auxiliar de Serviço no Ministério da Agricultura. Como curiosidade,
refere-se que, em toda a sua carreira como funcionário público, não
existe registro de qualquer falta ao serviço.
Nosso Lar
Em 1943 vem a público uma das obras mais populares da literatura
espírita no país, o romance "Nosso Lar", o mais vendido e divulgado da
extensa obra do médium. Este é o primeiro de uma série de livros cuja
autoria é atribuída ao espírito André Luiz.
Neste período, a celebridade de Chico Xavier é crescente, e cada vez
mais pessoas o procuram em busca de curas e mensagens, transformando a
pequena cidade de Pedro Leopoldo, em um centro informal de peregrinação.
Tendo morrido na miséria o seu antigo patrão, José Felizardo, o médium
empenha-se em arranjar-lhe um sepultamento digno, pedindo doações de
casa em casa para esse fim. De acordo com o seu biógrafo Ubiratan
Machado, "...até mesmo um mendigo cego doou-lhe toda a féria do dia".
(MACHADO, 1996:53).
O caso Amauri Pena
Em 1958 o médium viu-se no centro de uma nova polêmica, desta vez por
conta das denúncias de um sobrinho, Amauri Pena, filho da irmã curada de
obsessão. O sobrinho, ele mesmo médium psicógrafo, anunciou-se pela
imprensa como falso médium, um imitador muito capaz, acusação que
estendeu ao tio. Chico Xavier defendeu-se, negando ter qualquer
proximidade com o sobrinho. Já com antecedentes de alcoolismo e com
sérios remorsos pelos danos causados à reputação do tio, Amauri foi
internado num sanatório psiquiátrico em São Paulo, onde veio a falecer.
A parceria com Waldo Vieira
No mesmo período, Chico Xavier conheceu o jovem médico e médium Waldo
Vieira, em parceria com quem psicografou diversas obras em comum, até à
ruptura de ambos, alguns anos depois.
Em 1959 estabeleceu residência em Uberaba, onde viveu até ao fim de seus
dias. Continuou a psicografar inúmeras obras, passando a abordar os
temas que marcam a década de 1960, como o sexo, as drogas, a questão da
juventude, a tecnologia, as viagens espaciais e outros. Uberaba, por sua
vez, tornou-se centro de peregrinação informal, com caravanas a chegar
diariamente, de pessoas com esperança de um contato com parentes
falecidos. Neste período popularizam-se os livros de "mensagens": cartas
ditadas a familiares por espíritos de pessoas comuns. Prosseguem também
as campanhas de distribuição de alimentos e roupas para os pobres da
cidade.
Em 22 de maio de 1965 Chico Xavier e Waldo Vieira viajaram para
Washington, Estados Unidos, a fim de divulgar o espiritismo no exterior.
Com a ajuda de Salim Salomão Haddad, presidente do centro Christian
Spirit Center, e sua esposa Phillis, estudaram inglês e lançaram o livro
"Ideal Espírita", com o nome de "The World of The Spirits".
As entrevistas no programa televisivo Pinga-Fogo
No alvorecer da década de 1970, Chico participou de programas de
televisão que alcançaram picos de audiência. Nessa década, além da
catarata e dos problemas de pulmões, passou a sofrer de angina. Passou
ainda a ajudar pessoas pobres com o dinheiro da vendagem de seus livros,
tendo para tanto criado uma fundação.
As décadas de 1980 e 1990
Em 1981 foi proposto para o Prêmio Nobel da Paz, que não ganhou. Neste
período a sua fama ampliou-se no exterior, com diversas de suas obras
sido vertidas em diversas línguas, assim como ganhou adaptações para
telenovelas.
Ao final da década de 1990 o médium contava com mais de 400 títulos de
livros psicografados. Nesse período estimava-se em aproximadamente 50
milhões os livros espíritas circulando no Brasil, dos quais 15 milhões
eram atribuídos a Chico Xavier e 12 milhões a Kardec (SANTOS, 1997:89).
No ano de 1994 o tablóide estadunidense National Examiner publicou uma
matéria em que, no título, declarava que "Fantasmas escritores fazem
romancista milionário". A matéria foi alardeada no Brasil com destaque
pela hoje extinta revista Manchete, com o título de "Secretário dos
Fantasmas", onde se declarava que, segundo informava a "National
Examiner", o médium brasileiro ficou milionário, havendo ganho 20
milhões de dólares como "secretário de fantasmas". A revista Manchete
continuava: "Segundo o jornal, ele é o primeiro a admitir que os 380
livros que lançou são de 'ghost-writers', mas 'ghosts' mesmo, em sentido
literal", concluindo "Chico simplesmente transcreve as obras
psicografadas de mais de 500 escritores e poetas mortos e enterrados."
O médium não respondeu, mas a FEB, por seu então Presidente Juvanir
Borges de Souza, editora de boa parte das obras de Chico Xavier, enviou
uma carta à revista em que informava utilizar os direitos autorais e
remuneração pelas obras de Francisco Cândido Xavier, para uso da
caridade, o mesmo se passando com outras editoras, ressaltando que "os
direitos autorais são cedidos gratuitamente, visando tornar o livro
espírita bastante acessível e contribuir, destarte, para a difusão da
Doutrina Espírita."
O mesmo Presidente da FEB, em 4 de outubro daquele ano, por ocasião do I
Congresso Espirita Mundial, apresentou uma "moção de reconhecimento e
de agradecimento ao médium Francisco Cândido Xavier", aprovada pelo
Conselho Federativo Nacional da FEB, em proposta apresentada pelo
Presidente da Federação Espírita do Estado de Sergipe. No documento, as
entidades representativas do Espiritismo no Brasil devotavam a sua
gratidão e respeito ao médium "pelos intensos trabalhos por ele
desenvolvidos e pela vida de exemplo, voltados ao estudo, à difusão e à
prática do Espiritismo, à orientação, ao atendimento e à assistência
espiritual e material aos seus semelhantes".
Falecimento
O médium faleceu aos 92 anos de idade em decorrência de parada cardio
respiratória. Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Chico
teria pedido a Deus para morrer em um dia em que os brasileiros estariam
muito felizes, e que o país estaria em festa, por isso ninguém ficaria
triste com seu passamento. O país festejava a conquista da Copa do Mundo
FIFA de 2002 no dia de seu falecimento.
Antes de sua morte, ele havia deixado uma espécie de código com pessoas
de sua confiança para que pudessem ratificar a sua presença quando
houvesse um contato. Já nos aproximamos do décimo ano de sua morte e
nenhum contato confirmando o código foi feito até ao momento.
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
Chico Xavier
Fonte: Wikipedia