Há algumas semanas
comemorou-se o dia da mulher. Naquela ocasião, um amigo presenteou a sua
esposa com flores. Esse amigo tem uma avó carinhosa; uma mãe com muitas
qualidades, mas a principal delas é a “mera” condição de ser mãe; tem
também uma irmã amiga; uma esposa dedicada e esforçada e uma filha ainda
na fase da meiguice infantil, estando, destarte, rodeado de mulheres
que para ele devem ser especiais, principalmente por serem estereótipos
de pessoas merecedoras de muito amor e respeito.
Nada obstante, em sua
vida social, nas ruas e em demais locais públicos, o referido amigo
apresenta uma conduta estranhamente diversa do que qualquer homem que
vive rodeado de tantas mulheres especiais, a princípio, deveria ter.
Ocorre que seus olhares insinuantes e comentários de baixo calão moral,
denegridor das reais, essenciais e perenes qualidades femininas, cujas
mulheres de sua família também possuem, denotam ser tal pessoa portadora
de algum distúrbio de ordem emocional, ou então, ser mais uma vítima de
uma educação machista, preconceituosa e castradora. Pode ser um doente
psicológico, carecendo de tratamento, contudo, tal iniciativa
terapêutica deve partir do próprio enfermo, sob pena de não surtir os
ideais efeitos salutares, valendo lembrar que a vida, não raro, se
encarrega de proporcionar excelentes ocasiões de reflexão para tal tipo
de pessoa, muitas vezes pelo rigoroso remédio da “dor”.
A visão
discriminatória e machista, como temos notado, é uma herança milenar,
limitando não somente a capacidade do homem de ter olhos de ver aquilo
que deveria estar nítido a sua volta, ou seja, a beleza feminina, os
delicados sentimentos e expectativas da mulher, como também cerceia seu
próprio campo de crescimento intelecto-moral, eis que o machista
fecha-se num mundo que, em verdade, não existe, porém, que lhe é mais
confortável para não aceitar-se como ser espiritual que vive,
momentaneamente, em sociedade. Ademais, pela ótica espírita, o Espírito,
ser imortal que já existia antes do regresso ao corpo físico e que
sobrevive à morte deste, sendo, assim, destinado ao aprimoramento
constante, à perfeição, é um ser sem sexo definido, podendo encarnar-se
ora num corpo masculino, ora num feminino, de acordo com as necessárias
experiências e provas pelas quais precisa vivenciar.
Cabe aos filósofos e
antropólogos definirem com toda propriedade possível a origem do
machismo. Certamente, até mesmo por uma questão fisiológica, o homem foi
durante muito tempo o ser mais forte e, portanto, mais poderoso.
Todavia, não há como deixarmos de perceber que muitas pessoas, fazendo
interpretação literal dos textos ditos sagrados, como, por exemplo, a
bíblia, e ao invés de desenvolver suas virtudes acabam por adquirir
vícios, como o machismo. Dizem alguns, que Deus primeiro criou o homem
e, portanto, este seria um ser superior à mulher. Somente depois, para
que o primeiro não ficasse sozinho e triste, o Grande Arquiteto do
Universo, Causa Primária de Todas Coisas, fez a mulher, de uma forma
muito peculiar, a qual já é bem conhecida. Infelizmente, a beleza
simbólica dessa história deixa de ser verificada para dar lugar a uma
disputa desnecessária e prejudicial para aqueles que se permitem
enveredar pelo tortuoso caminho da arrogância.
Jesus, o maior líder
que já passou pela Terra (e que dela jamais se afastou) foi o maior
feminista de todos os tempos, tendo, após sua morte, aparecido pela
primeira vez para uma mulher. Em várias passagens evangélicas vemos o
Mestre Nazareno equiparar a mulher ao homem, como a lei humana
brasileira tenta fazer até os dias atuais. Basta recordarmos o caso da
mulher que foi pega cometendo adultério e trazida até Jesus com a
recomendação, de seus perseguidores, de que a lei de Moisés determinava o
apedrejamento de mulheres flagradas naquela situação. Inicialmente,
importa salientar que trouxeram “uma mulher” à presença de Nosso Senhor
Jesus Cristo, oportunizando-nos algumas perguntas: essa mulher cometia
adultério consigo mesma (fato impossível), ou, como quer parecer, havia
um homem com ela? Onde estava esse homem durante o julgamento, cuja pena
já estava aparentemente pré-estabelecida? Então tal homem havia sido
seduzido pela mulher pecadora, ou, como na maioria dos casos, foi ele
quem a manipulou para sair do caminho escorreito? E na atualidade, por
que somente as esposas de personalidades da vida política têm a coragem
de perdoá-los publicamente? Será que se tais homens figurassem como
vítimas de adultério teriam a mesma postura nobre?
Com toda didática e
exemplificação vívida que marcou seus passos, naquele caso, Jesus
somente devolveu o mal com o bem, convidando os afoitos personagens
daquele tribunal a céu aberto a atirar a primeira pedra, começando
daquele que estivesse sem pecado. Interessante lembrarmos daquilo que
numa de suas obras o Espírito Humberto de Campos narra, revelando que o
Mestre abaixou-se novamente e passou a escrever no solo os tropeços e
defeitos morais (pecados) cometidos pelas pessoas presentes ao local, e,
levantando-se novamente, viu que não havia mais ninguém ali, tendo
advertido a mulher para que não voltasse mais a se equivocar, pois
somente a ela competiria fazer seu autojulgamento.
Portanto, os
Evangelhos estão cheios de apontamentos feministas (não radicais), como
este: “Aprendestes que foi dito aos antigos: “Não cometereis adultério.
Eu, porém, vos digo que aquele que houver olhado uma mulher, com mau
desejo para com ela, já em seu coração cometeu adultério com ela” (S.
Mateus, cap. V, vv.27 e 28). Logo, quando um homem se perceber num
momento de fraqueza e tentação diante de uma mulher, que diga para si
próprio: “e se fosse minha filha (ou minha mãe, esposa, avó, irmã, etc.)
como eu me sentiria, qual seria a minha atitude?”
Se é importante
assemelhar-se a uma criança para ser digno de entrar no reino dos céus,
torna-se inevitável para o homem aproximar da conduta feminina,
sensível, amorosa, espiritualizada, a fim de bem viver em sociedade,
aproveitando a ensancha reencarnatória para evoluir, afinal,
parafraseando, um artista brasileiro, “ser um homem feminino não fere
nosso lado masculino”, o que não equivale a dizer que os homens devem
perder a masculinidade, mas sim, aprender com as mulheres, respeitando,
valorizando e as amando.
Nestor Fernandes Fidelis
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